MOSTRANDO
domingo, 31 de agosto de 2008
Perplexidade
Existe um rosto que vejo sempre nos espelhos e que não reconheço. Existe nele um par de olhos que me fazem recordar de alguem. Escondidos porem, atras de uma máscara de carnes flácidas, de traços vagamente familiares, tornam impossivel a identificação. Quem é essa mulher que roubou meu reflexo, que ocupa o espaço de minha imagem? Onde foi parar aquela face que conheci e representava como EU? Pois sei quem sou, e lembro claramente de quem fui. O tempo transcorrido entre o que é passado e presente, medido por acontecências, não é tão vasto assim, não é suficiente para alterar o espaço mental da memória. No entanto, estranheza, não sei quem me olha a partir de um lugar onde, até pràticamente ontem, eu via quem eu sabia que eu era. E agora, a cada momento, o que vejo é uma surpresa. Não mais me espera, nas superfícies polidas, o reflexo de quem me sei. E paradoxalmente, quanto mais me conheço, quanto mais aprendo de mim, mais estranho a mulher que vejo.
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5 comentários:
O olhar que se estranha é o que se olha de frente. Porque somos exatamente isso, Dona Urtigão: o silêncio pasmo entre o estranho e o paradoxo. Não importa o tempo que se olhe, se se olha com os olhos do estranhamento. O que se vê.. é sempre outro..
Desculpe o sumiço, mas passei um tempinho resolvendo umas pendengas, e só consegui colocar alguns textos esporádicos.. Tô de volta, já satisfeito, pelo prazer deste texto.
Abração
Caro Marcelo
"Sumiço" é o nome nesta blogosfera para situações que necessitamos estar mais presentes e/ou atuantes na esfera do mundo chamado real. Estar tambem no habitual mundo material é decorrente da condição de seres de dois mundos ( e suas subdivisões). E alguns ainda experimentam tres, as tais vivencias espirituais...
Mais estranhamentos.
Fizeste um jogo tão complexo de palavras neste texto que, por pouco, nem eu mesmo sabia mais quem eu era. ;)
Aprecio as suas reflexões. Não me refiro apenas a do espelho.
Um beijo!
Oliver,
agradecida pelas palavras gentis.
Oi. Passei por coisa parecida. Ou nem tanto. Acho parecida por causa do estranhamento entre o ser que nos sentimos e o eu como existe no mundo real. Minha experiência: sentir a própria consciência despertar estarrecida no meio de um corpo que pratica discurso ações que essa consciência nunca endossaria. Sentir que a consciência é mais antiga que o discurso e as ações, mas esteve dormindo ou viajando sabe Deus onde e voltou encontrando a casa bagunçada - os filhos adolescentes dando uma festa do cabide, para dar uma noção inexata mas pitoresca. Não deve ser a mesma coisa que o que você sente, mas, enfim... Só hoje vi seu comentário. Não dei bem uma resposta. Abraço!
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