Vendo agora no jornalglobal regional uma reportagem sobre a cheia do rio Muriaé em Cardoso Moreira, município do noroeste do estado, a quantidade de casas definitivamente interditadas pela cheia do rio, (anuais) a quantidade de pessoas desalojadas e vivendo em aluguel social, em lugares que tenho passado frequentemente e que tem me induzido à reflexões e que no início do ano inspirou-me um texto que não escrevera, porque ainda não havia parado para fazer a foto ideal, mas que agora escrevo aqui. No momento, com fotos que fiz em algum dia desses do local a que me refiro, sem sequer parar o carro, talvez no mesmo dia do texto, ou uma semana antes ou depois, que está longe de ser a foto que eu quero, que dê uma ideia real do que digo.
A VÁRZEA E O RIO
Era uma vez um lindo e forte Rio, que descia vigoroso e tranquilo pelas vertentes suaves das montanhas. Com as chuvas, anualmente, crescia mais e mais em volume com as águas recebidas, que haviam sido despejadas sobre as serras e o Rio, orgulhoso, esparramava-se em suas margens, em suas várzeas. E isso diluia a violência do volume que o Rio adquiria, e fazia das várzeas, Vargem Alegre, Vargem Alta, Várzea de São-qualquer-tantos que existem por ali., todas, sem exceção, várzeas alegres com a fecundidade das terras renovada pelo Rio. Mas o Homem, essa praga que precisa sempre mais, cada vez mais, que cresce e multiplica-se irresponsàvelmente a mando de sei lá... viu tudo que aquela Terra fecundada da Várzea produzia e se apossou dela. E construiu moradias e fez plantações, ou pastos e tudo crescia muito, produzia muito e enriquecia o homem, que ainda sabia conviver com as cheias do Rio. Mas a riqueza vai deixando o Homem cada vez mais confuso. Ele perde a noção. Não mais vê grande, vê apenas o dinheiro de hoje e amanhã, então, pensando em ganhar mais, vender mais, constrói estradas para escoar a produção. Que acompanham o Rio, paralelas, evitando grandes meandros, mas que constitui-se em uma muralha entre o Rio e sua amada Várzea. Tres, quatro metros de altura. Dois em alguns lugares, mas sempre lá, elevada, a muralha. A Estrada. E o Rio fortalecido pelas águas que caem nas Serras, não mais pode descansar em sua Várzea. Desce veloz, feroz, pelo leito em que está confinado, enfurecido pela paixão frustrada e segue, invadindo e tentando destruir a Cidade dos Homens, daqueles que o afastaram de sua amada, que lá está, enfraquecida pela perda de seu querido, e passa , não mais fecunda , adoecida, a precisar dos remédios dos homens para continuar produzindo a riqueza que eles continuam a perseguir sem perceber que deixaram passar, perderam.
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5 comentários:
E eu lá, indo e vindo pela Estrada, para atender a meus interêsses...
Tem sido frequente a construção de estradas e casas no leito de cheias.
Isso também tem acontecido em Portugal. Por vezes, aguentam anos, décadas. Mas lá vem uma cheia que leva tudo na frente...
O ordenamento, tendo em conta a natureza, é fundamental.
Gostei do post, muito interessante.
Beijos, querida amiga.
Bonito, sim, amiga; é uma boa expressão de uma triste verdade. Boa semana, fica bem!
Lindíssimo, este lado de ti!
Não...não é o José torres do blog.
Volta sempre ao RARA AVIS, espero-te deste lado do mar.
bj
Querida amiga, vejo que continua nas suas andanças em busca da melhor filosofia de vida, porém, com tempero a la Indiana Jones. A prova, é que a fotografia do outrora orgulhoso rio, foi tirada por você mesmo, do interior do seu próprio carro. Com o seu estilo de vida, logo vai precisar de um Land Hover.
Estou afastado do universo dos blogs por uns tempos, e não é apenas por causa de muito trabalho, mas, cuidando de outros interesses, inclusive da publicação do meu primeiro livro. A lista de espera de escritores novatos em uma grande editora é extensa, mas faço uso da paciência chinesa quando o assunto é importante.
Estou muito bem, agradeço pelo seu interesse e desejo a você e às suas estradas a melhor das sortes.
Um beijo!
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