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domingo, 11 de julho de 2010

Crônicas Amazônicas - 2


O PURUS

Contratada a embarcação, uma canoa de alumínio, com motor de pôpa, chamadas aqui de "voadeiras", talvez porque, como descobri depois, ainda são muitos os que usam embarcações - canoas - à remo, com critérios de escolha que eu desconhecia, são muitos os canoeiros que aguardam no porto, mas também são muitos os viajantes, principalmente nesta época, do Festival. É confortável ser acompanhante, não ser quem tem que decidir, fazer as escolhas. A vida toda eu fui pai e mãe, todos dependiam de certa forma, de minhas decisões e êrros de escolha trazem consequências muitas vezes terríveis. Sei bem disso.
Bagagens a bordo, finalizadas detalhes de compras de suprimentos, o canoeiro cobrando o atraso, são 10;30 da manhã, o atraso pode acarretar dificuldades pela chegada da noite, os outros já partiram em suas voadeiras, ficamos para trás, mas são duas crianças que têm certas demandas, é necessário comprar também coletes salva vidas para as crianças, as voadeiras só tem para os adultos, travesseiros para sentarmo-nos durante o longo percurso, água para beber, ter certeza de que nada falta, depois pode ser tarde. De qualquer forma, torna-se tarde. Seguimos.
Minúsculos pontos esparsos ao longo do Rio Purus, voadeiras "voando" outras canoas seguindo a remo, um ou outro batelão. Estamos na seca. A vazante expõe bancos de areia que podem encalhar barcos maiores. Logo entenderei.
Sob o imenso céu azul, cúmulus brancos e acinzentados criam a dúvida: irá chover? Temos capas de chuva, lonas para cobrir as bagagens, latas para retirar a água que se acumularia na canoa pela chuva, mas o Nildo garante, não irá chover. No inverno, sim, chove todo dia, muito. Por hora, é proteção contra o sol. As "queimaduras do Purus" são famosas. Mangas compridas, apesar do calor intenso. E bota intenso nisso, no barco suavizados pelo vento. Protetor solar, chapéus. Difícil manter os meninos com chapéu e coletes. Protestam, mas logo adormecem e podemos cobri-los para proteger do sol. Um ou outro, raramente os dois ao mesmo tempo. Mas isso facilita o contrôle. Somos tres adultos para duas crianças. Numa pequena canoa. Na verdade, das grandes. Quando sairmos do Purus e entrarmos no Igarapé do Mapiá, será necessário a troca por uma embarcação menor, pela pouca profundidade do rio nesta época. O motor de pôpa veloz, não tem condições de navegar na seca, então será usado apenas no Purus.
O barco ora vai para a direita, ora para a esquerda, no, para mim - imenso rio. Que espanta aos que estão comigo e já foram lá mais de uma vez, no "inverno", pelo quanto está vazio. Foge dos bancos de areia e dos troncos submersos, que agora, expõem-se parcialmente. Algumas vezes diminui muito a velocidade. Fico bastante admirada da técnica do barqueiro. Admiração que só vai aumentar ao longo da viagem e das dificuldades do percurso.
Cruzamos com outras voadeiras, conduzidas muitas vezes por meninos, com suas famílias eu presumo. Tão jovens com tamanha responsabilidade! Mas cresceram aqui. Aprendem a navegar logo que aprendem a andar. Não há estradas entre suas casas e de outros ou a cidade. Apenas o Rio. Mais tarde vi pais com filhos muito pequenos ao colo, já lhes transmitindo o conhecimento. Suas mãozinhas minúsculas cobertas pelas de seu pai, ao leme, conduzindo suas embarcações.
Ao contemplar as barrancas, e pelas informações que vou recebendo, imagino o que possa ser a cheia, quase metade do ano. São apenas duas as estações. As chuvas e o verão. O calor faz parte das duas. A diferença são as águas. O que me mostram é que o nível da água altera-se em oito ou dez metros, ás vezes mais. Penso na imensa massa de água que desliza. Logo sou tomada pelo desejo de conhecer o inverno também. Mas o que vejo já me deixa extasiada.
O que vejo é Terra Viva, em transformação rápida, intensa e extensa. A água revolvendo, arrancando as árvores e a terra, escavando de um lado do rio. Do outro lado, depositando-se areia, formando praias, que só são vistas na seca, e que são áreas bastante férteis apesar de arenosa. Plantam-se nestas praias, milho, mandioca, feijão, arroz. Colhe-se uma safra ao ano, abundante. Sobre as barrancas, em solo firme, os ranchos dos moradores, bananeiras, uma ou outra coisa que se pode divisar, mas estamos muito abaixo para ver direito. Ora de um lado, ora do outro, dependendo das curvas do rio, a parte côncava arrastada, na convexa formando-se em depósitos de sedmentos. Um pouco além da praia, formando-se a mata, grandes áreas de embaúbas, indicativas de floresta em recuperação. Ou em formação. Em toda praia, ancorada uma ou mais canoas. Estão cuidando das plantações. Mas quase não se vê pessoas.
Estou impressionada com o tamanho da árvores arrancadas e depositadas ao longo do rio, pela erosão. Alguns ranchos já estão tão na beirada que chego a temer pela segurança de seus moradores quando vier o próximo inverno.
Êxtase, êxtase. E de repente voce se acostuma com aquela grandiosidade, se torna parte daquilo. Simplesmente estou ali. Penso no que sentiu o Criador, ao ver o mundo se formando. Não encontro outra palavra para empregar, para descrever o sentimento. Isto é sublime. Magnífico.





( Em 21/06/2010)

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Um comentário:

Beatriz Fig disse...

Transforma em livro! =)Vc descreveu tudo tão bem que viajei junto, imaginei as cores, vi os pais ensinando os filhos...
Aguardo mais!
E obrigada pelo comentário. Por mais razão que vc tenha e concorco com vc, tenho esses momentos de desacreditar nas coisas e creio que devo dar o devido espaço a eles.

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