MOSTRANDO
sábado, 17 de julho de 2010
CRÔNICAS AMAZÔNICAS - 9
O ADEUS
Que espero muito ser um "até breve".
Já antes de sair, ao arrumar a mala, estava com dificuldades, coisa que nunca me ocorre. Gosto de voltar para casa, mesmo sabendo que quando chego, já quero partir de novo. Talvez porque nunca senti minha casa como um lar, um lugar para ficar. Sempre foi mais um abrigo de passagem. Durante muitos anos porque vivia quase tanto no trabalho quanto em casa, depois pelas oportunidades de viagens, que tanto gosto, e que a vida me proporciona. Nunca em nenhum lugar, me sentia em casa. Costumo dizer que o problema é que me perdi de minha tribo logo ao nascer e passo a vida procurando. Mas aqui foi diferente. Acho que uma grande parte da minha tribo veio parar aqui. Fizeram escolhas, vieram a partir dos anos 90, do sul, sudeste, norte, nordeste. Encontrei gente aqui de todos os lugares do Brasil e de alguns do resto do mundo: irlandeses, norte-americanos, paranaenses e paraenses, paulistanos, mineiros, cariocas , fluminenses, todos em busca daquele algo a mais que os aproxima da vida verdadeira. A afetividade demonstrada pelos vizinhos que se visitam sempre - aliás, a maior parte dos caminhos para as casas se fazem por dentro dos jardins das outras casas, pouco existem ruas. Ações que via em minha infância, como levar ao amigo do pão ou do bolo que voce fez hoje - e todos são amigos, sem distinções de classe social , ou distinções acadêmicas. Os doutores acadêmicos, escritores, partilham suas vidas com os ex-seringueiros e pescadores, com analfabetos, que ainda existem, principalmente entre os mais velhos e que vieram no primeiro movimento migratório trazendo uma imensa sabedoria da floresta e do homem; ou os que chegam agora, buscando esta "ilha de prosperidade" em meio à mata; a "lavadeira" convida quem lhe contratou, para um almoço de domingo, num domingo, e lá fomos nós, banho de igarapé - cuidado com a arraia, é preciso cutucar com uma vara o fundo de areia do igarapé, antes de se aventurar, os ferimentos que produzem são terríveis - e um almoço delicioso, simples com um tempêro divino. Embora exista televisão, não se perde o costume de visitar e prosear com os amigos. E são todos amigos. Foram muitas as visitas e retribuições. É "de lei"
Mas chegou o dia, não queria ter que ir embora, mas tenho outras pessoas a minha espera, compromissos ( irhc!). E não queremos pegar o Cuxiuará ( Purus) à noite. Ouvi cada história, de monstros e desaparecimentos inexplicáveis... Com pessoas reais, conhecidos de conhecidos.
Alguns dos que vieram no mesmo dia que viemos, já haviam partido, em outros dias, outros ficarão. Alguém busca meios para poder ficar de verdade.
Canoa carregada, lanches prontos, abraços, lágrimas engolidas, outras escapam, seguimos.
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