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segunda-feira, 12 de julho de 2010

CRÔNICAS AMAZÔNICAS - 3


NAVEGANDO NO IGARAPÉ

De repente, a voadeira vira 90 graus, e aponta à esquerda. Minha filha espanta-se com a nova imagem do Igarapé Mapiá. Pouca água, estreitou muito, ela diz. E eu que achava que igarapé era um riachinho, espanto-me com a largura, aproximadamente 5m. Enquanto navegamos rio acima, volteando em inúmeros meandros, explicam-me que o percurso é assim sinuoso apenas na seca. Nas chuvas, a água sobe tanto que as voadeiras não precisam seguir o curso dos rios, seguem quase em linha reta por atalhos, onde hoje é terra firme e floresta. Duas horas a menos de viagem, dizem, mas sob chuva. Dizem-me do quanto é lindo navegar dentro da mata. Pronto: aumenta o "gosto de queromais"; ainda nem cheguei ao destino e já desejo retornar nas cheias. Mas agora, não há retas, apenas curvas e curvas e em menor escala o que ja havia visto no Purus; troncos arrancados de um lado, praias do outro. Aqui, torna-se mais claro o porque da fertilidade das praias. Vê-se com clareza as camadas de sedimentos, alternadas: folhas e restos organicos alternados com areias. a quantidade de troncos e raizes no meio do rio é enorme. As vezes contornado, outras precisamos nos abaixar para passar por baixo. Logo no início, o Nildo adverte; " primeira cachoeira" . Assusto-me, pois o que conheço como cachoeira é...cachoeira. Aqui é apenas uma correnteza um pouquinho mais forte. Ufa! E logo paramos na Fazenda. Uma fazenda, mesmo, onde vamos comer algo ( que trouxemos) enquanto aguardamos a troca de canoa e o descanso do canoeiro. Trinta minutos, adverte. Já estamos atrasados. São duas da tarde. E se preocupam com a chegada da noite. Serão mais quatro horas de barco. No Purus ficamos pouco menos de quatro horas tambem. Nossa! Nem senti o tempo passar! Subimos caminhando por uma trilha que minha filha diz que nunca havia visto, pois quando veio, das outras vezes, as águas chegavam lá em cima. Fico pensando nas nossas regras das cidades, onde um motorista não pode dirigir um ônibus por mais de duas horas, é necessário pausas e revezamentos por questões de segurança. No rio, o canoeiro, credenciado pelo ministerio da Marinha fica no contrôle por 8 horas ou mais.
Comemos, demos banho nas crianças, para refrescar um pouco, o calor já é insuportável, além dos mosquitos. Acabo de descobrir o que fui fazer mudando-me para Cabo Frio: sem que eu soubesse, a vida já estava me preparando, aclimatando, para esta viagem que eu nem imaginava que iria acontecer. Calor e mosquitos. Repelente e abanos. Meu genro resolve aproveitar para visitar um amigo que mora na fazenda. Consequencia disto tudo, um pequeno atraso para a partida.
Seguimos volteando entre praias, troncos caidos, vegetação das margens. Aqui e ali uma ou outra canoa, um ou outro rancho, às vezes divisamos rostinhos de crianças entre as árvores das margens. Muitas das canoas que vejo ainda são aquelas construidas e escavadas de um só tronco de árvore. Técnicas rudimentares (?) de nossos indígenas e caboclos.
Estou encantada pelas formas que surgem das águas. Os troncos que foram arrancados parecem verdadeiras obras de arte. Esculturas dignas de figurar nas melhores galerias. Penso em Krajcberg. Muitos desses troncos ou galhos movem-se constantemente ao sabor da correnteza, numa dança interminável, muitas vezes assumindo um aspecto macabro, outras pura arte. Descem e sobem ou lateralizam-se, infinitamente. (Fotografo tanto, que agora nem sei escolher qual vou postar). A maioria das formas é tão incrìvelmente linda, que contrui um catálogo de arte. Muitas se antropomorfizam, outras assumem formas animais, outras ainda puro abstracionismo.
O riacho da minha imaginação, assume proporções majestosas. Algumas curvas alargam-se em verdadeiros lagos, onde refletem-se a beleza das árvores. Em muitas praias voam miríades de borboletas. Aqui, quatro ou cinco metros de largura, logo na próxima curva atinge mais de dez metros. E assim vamos. A profundidade não sei avaliar, mas parece pouca, já que a todo hora o canoeiro precisa levantar e retirar a hélice da água, para não quebrar. E pára-se diversas vezes para reabastecer. Aqui o motor de popa (como conheço), foi substituido por um outro, que me informo, chama-se "rabuda" ou "rabo de jacaré", próprio para aguas rasas.
Numa dessas paradas, os meninos querem entrar na água. Saímos do barco, esticar as pernas, e de repente o Davi, que ainda não tem dois anos, sai correndo e se atira na água. Com tudo, e afunda. Vovó se joga atras e puxa o menino para cima. Ele já estava quase sem roupa , eu de calças compridas e blusa de manga comprida, afinal, não pretendia tomar banho no Igarapé. Pronto, molhada pela metade, refrescada, rezo para que não tenha comprometido a câmera. Êle adorou a brincadeira, quer porque quer repetir e quase consegue. Pulo muito atras dele, enquanto a Mamãe controla o de quase quatro anos, que tambem está na água. A maior choradeira quando temos que seguir viagem.
A grandiosidade da mata ciliar(?) me impressiona. Dei graças por ter vindo na seca. Afinal, com as águas quatro ou cinco metros mais alta, as árvores tambem vão encolher quatro ou cinco metros.
E os atrasos no embarque e nas paradas cobra seu preço. Anoitece. A canoa não tem farol. A princípio, o Nildo orienta-se pelo brilho da lua quase cheia nas praias e talvez pelo seu conhecimento de cada curva, de cada tronco do leito do igarapé. Perguntamos se não tem uma lanterna, que então começa a usar, mas parece que piora a visibilidade, considerada a velocidade em que seguimos. Alguma vezes batemos em troncos, a canoa oscila de um lado para outro, de certa feita quase caem as caixas de provisões, de outra, bate de frente em um tronco, que ao deslocar-se, arranha a perna do Davi, que chora muito. Não tem solução. Aqui não podemos ficar. Tiro os óculos, ponho dentro da bolsa, não posso ficar cegueta, caso consiga chegar, se os óculos cairem dentro do rio. Penduro a bolsa com documentos ao pescoço. Se virarmos, a pouca profundidade permitirá o resgate das bagagens, diz o barqueiro. "Sejaoque deusquiser!" Começo a brincar de tentar adivinhar em que momento seria feita a curva, oscilo, balanço, só me preocupam as crianças. Ainda não sabia de estórias de quedas, de certas palmeiras (esqueci o nome) que tem o tronco coberto de espinhos que podem ferir bastante quem vira sobre elas. A ignorância ajuda-me a não sentir tanto medo.
Então chegamos! Vila Céu do Mapiá. Uma enorme ponte sobre o igarapé, iluminada, surpreende-me. Desço do barco, começo a subir as escadas que levam à terra firme e que nas cheias ficam submersas e já no terceiro passo, não sei se cansaço ou tensão, meu pé esquerdo erra o degrau de tábuas, entra entre um e outro. Uma dor insuportável! Meu genro chamando, acima, para eu pegar o Davi que dorme, para que ele pudesse pegar o Gabriel e descarregar. Ninguém viu, eu não falei. Subo, contendo-me. " Não quebrou, não quebrou" . Mais alguns degraus, sento-me com o Davi ao colo, abro a bolsa, procurando no escuro e com apenas uma mão o vidro com arnica, da homeopatia, já que meus problemas de saúde não me permitem usar analgésicos antiinflamatórios. Tomo quatro, oito, sei lá, quase meio vidro dos tabletes. Não tenho coragem de olhar, deixo para depois. A dor começa a tornar-se suportável, enquanto começamos a caminhada até a casa onde ficaremos hospedados. Cerca de 1 km. Nem consigo apreciar ou sequer notar o que está a minha volta. Só quero chegar.
Um corte de cerca de 5cm, horizontal, em meio a perna. Um imenso hematoma se forma ao redor, outro logo abaixo do joelho, no lado interno da perna. Não quebrou, vou sobreviver. Espero. Não sou vacinada contra tétano. Sou alérgica a componentes da vacina.




onde não esta o rio, que nas cheias vai até a beirada das casas e algumas vezes até o pátio, ainda são construidas sobre pilares - como palafitas.

as borboletas

os sedmentos

uma canoa



(21/06/2010)

Um comentário:

Beatriz Fig disse...

Que doido! heheh Uma aventura com muita coragem.
Fiquei encantada com a parte dos troncos. Não conhecia esse escultor. Quer dizer, o Krajberg pois, a natureza eu conheço ^^

beijoss

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