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quinta-feira, 23 de abril de 2009

A calça vermelha

Estava agora visitando um blog que fazia referências elogiosas ao Gentileza numa matéria sobre outro Profeta Urbano em Rio Branco (ver)
Tenho, no entanto, do Gentileza, uma ideia menos romantizada, já que meus contatos com ele foram um pouco diferentes do que se fala hoje.
No início dos anos 70 eu era estudante na grande cidade do Rio de Janeiro, embora continuasse a residir em minha cidade natal, cerca de 60km da Universidade, nada demais, já que era chamada de cidade dormitório do Rio, devido a quantidade de pessoas que optavam por residir aqui, pelo clima, tranquilidade, (naquele tempo ) e trabalhar na cidade grande, alem dos naturais da cidade que procuravam melhores condições salariais e emprego, mesmo, escasso na serra.
Para uma das materias cursadas, no Caju, eu descia do ônibus na Avenida Brasil, coisa que era factível à época, e atravessava a avenida, bem proximo ao ponto em que o Gentileza pregava, com uma espécie de cajado às mãos. AH! O cajado.
Quem lembra dos anos 70. Minissaia, roupas coloridas, movimento hippie, na cabeça e na indumentaria. Sonho de consumo dos jovens classe média era uma calça Lee ou Levi's que só chegavam aqui por importadoras, carésimas,ou presentes trazidos por encomenda a algum conhecido. Meu pai precisa ir a Nova Iorque a trabalho. Inimaginável à classe média recem emergindo da pobreza. Peço a ele uma calça Lee de veludo - OH! bem supremo, e cinza ou de preferência, a azul clara. Ansiedade pelo retorno. Acontece que eu havia esquecido que meu pai alem de não falar ingles era daltônico e me diz ao voltar, que não conseguiu azul ou cinza mas trouxe uma verde linda e quando abro o presente deparo-me com o vermelho mais ... vermelho que eu já havia visto. Choque que eu não podia esternar. Não poderia jamais magoá-lo pela sua diferença. O que implicava em ter que usar aquilo. Tudo bem, eu era meio excêntrica mesmo. Parte pela natureza e parte pela pobreza que me obrigava a criar roupas que eu mesma costurava ou reformava, dos brechós - aliás, brechó é coisa de rico, nós íamos mesmo aos "bazares" - venda de roupas usadas, se quisesse vez ou outra coisa nova para usar. Além dos bordados "a la hippie" feitos em roupas puidas que eram assim renovadas. Este sistema que me permitia ter duas calças, enquanto uma lavava, eu usava a outra.
Eu precisava então atravessar a Avenida Brasil onde o Gentileza pregava contra a PERRRDIÇÃO (acho que era com dois ou tres esses além dos RRR). E para ele, a perdição estava em minissaias, roupas extravagantes e na minha calça vermelha. E invariàvelmente corria atras das mulheres que se vestiam sem decôro(?) brandindo deu cajado, ameaçando e eventualmente acertando alguma menos avisada. Quantas vezes atravessei correndo entre os carros, com medo do Gentileza, que corria atras, mas só até a pista do meio.
Violência e gentileza?

(VIOLENCIA - parte 3)

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4 comentários:

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Ignorância também gera violência...

Mas, agora que já passou, vamos combinar que você "virou História graças à ignorância/violência daquele pobre coitado?!"

Também não consigo romantizá-lo, não; idealizações são perigosíssimas...

Pobre da nação que precisa de heróis...mais pobre ainda as que precisam de heróis duvidosos e patéticos...

Espero que ele não tenha te alcançado-de-verdade!...Só o suficiente para o cajado ter virado vara-de-condão, inserindo você (até com certo humor) nos nossos dados históricos!...
BJS!

Aninha Pontes disse...

Engraçado como um bom texto nos faz reviver, pensar, recordar...
E recordar na maior parte das vezes nos faz muito bem. Talvez porque façamos questão absoluta de esquecer aquilo que nos machucou. Mas seu texto me fez voltar também à minha juventude. E pensar que pecado naquele tempo, era tão inocente.
Um beijo

Vovô Chico disse...

Outro dia comentei com um amigo, durante uma conversa sobre comportamento e moral, que todo problema tem dois lados: o certo e o nosso. às vezes escolhemos o lado certo, né?
Paz.

Impressões Amazônicas disse...

"Gentileza gera gentileza". Mesmo que o Profeta não tenha sido tão gentil contigo e com sua calça vermelha, acho que conta o ideal de paz que restou, ou seja, que foi purificado com o passar do tempo (e o tempo é o melhor dos filtros, embora nem sempre seja justo...). Obrigado pela visita em meu blog. Seja sempre bem vinda! E parabéns pelo seu. Estará logo linkado por lá! Gostei muito. E ótimas fotos!

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