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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Das palavras

Provàvelmente por estar afastada do meu nicho, por estar envolvida em outras atividades que não aquelas que já havia estabelecido como essenciais, e não com aquelas que de fato me trazem felicidade e prazer, tenho pensado demais na questão das palavras, da linguagem. Não só pelo aspecto filosófico, os jogos de linguagem, Wittgenstein, Austin, mas principalmente no aspecto sensível e pessoal, como as palavras nos prendem, controlam. Como usadas como metáforas, são esvanescentes, inconstantes.Como são, na verdade cruéis, mesmo quando utilizadas sem maldade. Como servem às vaidades. E aí ao dar uma passada pelo orkut (é, a velhinha ao redescobrir os instrumentos da contemporaneidade resolveu também experimentar esta ferramenta), numa comunidade sobre Literatura Indígena, da Eliane Potiguara e assinada por "Loira" encontrei o que transcrevo:

"Diz a sabedoria indígena que quando não cumprimos o que
prometemos, o fio de nossa ação, que deveria estar concluída e amarrada em algum lugar, fica solto ao nosso lado.

Com o passar do tempo, os fios soltos enrolam-se em nossos pés e impedem que caminhemos livremente...

Ficamos amarrados às nossas próprias palavras.
Por isso os nativos têm o costume de"pôr-as-palavras-a-andar" que significa agir de acordo com o que se fala;
isso conduz à integridade entre o pensar, o sentir e o agir no mundo e nos conduz ao Caminho da Beleza onde há harmonia e prosperidade naturais."

E nós, nos achando civilizados, insistimos em impor nossa cultura.

3 comentários:

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

É exatamente o que penso, dona Urtigão.. E brinco, às vezes, com a inteligência superior dos índios, que, ao contrário do homem branco, que espera 35 anos pra deitar na rede, já nasce deitado nela..
Essa dos nós que as palavras criam, fora-de-série.. É o caminho inverso da tendência de cá, afeita aos simulacros e aos eufemismos..
Beijos e estou linkando-a (opa, isso é novo hein..). Desculpe a demora, mas semana de prova é brabo.

Artsy-Fartsy disse...

Pessoal, mas o que é a palavra? quanta palavra é dita num momento de exasperação, sem que haja passado pelo crivo da razão, ou ainda do bom gosto! Wittgenstein, que a Sra. menciona, tem a magnífica crestomatia chamada Gramática Filosófica, e com que propriedade trata da palavra! Mas antes dela, a consciência (porque a palavra, penso, pode ser mero arco-reflexo simples), e há, dentre os mitos gregos, Hephaistos, com que Friedrich Dürrenmatt, em "A Pane" brincou lindamente com o enrolar-se nos fios das próprias culpas. Quando os romanos diziam "verba volant", sob um certo aspecto estavam certos: a palavra que precisa ser mantida é a já interiorizada, a dita conscientemente, e não aquela a que Clarice Lispector se refere - e que já mencionei outro dia no blogue do Marcelão: "Nunca eu tivera querido dizer palavra tão louca! Bateu-me um vento na boca, e depois no teu ouvido. Levou somente a palavra, deixou ficar o sentido..."
Assim, a palavra encarnada, a essa dou mesmo atenção; se for apenas corpo presente...
Não sei se concordariam comigo a colega blogueira Urtigão e o Marcelão.

Dona Sra. Urtigão disse...

Sir, Marcelo,
Penso que a questão deva ser justamente esta, um simulacro, porem não intencionado, simplesmente não pensado, não contido.Como um uso irresponsável de uma ferramenta de imenso poder, poder de destruir ou de construir.Se cada palavra proferida fosse antes refletida, e se tivesse um unico e claro sentido...Haveria maior entendimento? Com certeza não haveria a poesia.E nem a tragédia. Talvez o silêncio...

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