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sábado, 3 de janeiro de 2009

Cansei.

Cansei. Não digo que definitivamente cansei, pois desconheço esta palavra. Nada que seja absoluto combina comigo. Mas eu tambem não combino com gente.
Combino com papel, escrito, desenhado, amassado, pintado, rascunhado,rasurado. Combino com jardins, com plantas, ervas daninhas, flores cultivadas ou não. Com florestas e pradarias. Combino com o sol, a lua, as estrelas. Até com a chuva.
Com estradas, montanhas, com o mar.
Combino com deserto, com sombras, com luzes.
Com tantas coisas eu combino. Mas com gente, não.



Eu entendo gatos, entendo cães e até as impertinências dos mosquitos, mas gente, não.
Entendo a tristeza e seu anverso, entendo até a dor e seu reverso. Mas não entendo gente.
Entendo antinomias, falacias, produtos da razão e desrazão, mas gente ao vivo, não.
Entendo bem seus protótipos, seus projetos e suas projeções. O que não entendo então?
O que é das gentes que não entendo? As escolhas? As opções...
Não direi aquela palavra, direi que o que não entendo é a ausencia do bem.



.

10 comentários:

Anônimo disse...

Descobri algo de muito bom. "EU" é mais do que eu supunha, EU é algo que eu estou a aprender a seguir, EU faz-me sentir um pouco envergonhada por me esquecer de coisas tão simples quanto a importância de ser eu!... Eu quero ser tal como EU.

Obrigada!

(se não se importar, vou linkar seu blog a partir do meu blog)

Furrequinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Furrequinha disse...

Colega Urtigão, creia-me, V. entende bem mais do que eu.
Abraços, daqui

Dona Sra. Urtigão disse...

Krystal, a vida parece-me ser uma constante descoberta de nós mesmos. E quando pensamos saber algo, somos desconstruidos e começa-se tudo novamente.

Sr comentario excluido. entendo bem pouco de quase nada e não estou entendendo nada, embora faça minhas conjecturas.
Abraço daqui.

Furrequinha disse...

Opa, sanando distrações, que excluí o comentário sem colocar outro em seu lugar, com o mesmo teor:
"creia-me, colega Urtigão, mas V. as entende bem mais do que eu mesmo."
Perdão e sem mais.
Abraços, daqui

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

O ser humano é essa lacuna preenchida por uma borracha... mas como escrevem bobeiras em cima da tal borracha... nisso concordo plenamente.

Mas há uma coisa que existe no humano que me traz um impasse produtivo (com o perdão da redundância). E nisso vou discordar da Krystal: "O Outro é o que me dá a possibilidade de não me repetir ao infinito" (Jean Baudrillard).

Abraços

Dona Sra. Urtigão disse...

Marcelo
O ser humano como lacuna é um conceito interessante, mas será que "escrevem" ou "escrevemos" e se a primeira opção, é porque permitimos, sendo então da mesma forma responsáveis pelo que é escrito. Não, não creio que o ser humano seja lacuna. É como tabula rasa.Cada vez mais tendo a crer que trazemos conosco algo, propensões, talvez estruturas, ou o tal do inconsciente coletivo que não nos faz lacuna, receptiva ao que for derramado nela. E ai então tambem a questão do outro, fenomenológico, co-participante, ou espelho.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Lacuna é exatamente isso, dona Urtigão: o que derramar, o ser humano pode acatar. Diferente dos bichos, que já vêm com o código inscrito.. Essa coisa da lacuna é especialmente fácil de ver no mundo de hoje, onde as pessoas, na tal da "liberdade de expressão", tascam a experimentar de tudo, tudo mesmo...

Quanto ao inconsciente coletivo, idéia do Jung, tendo a duvidar dele, pelo simples fato de que o Jung puxou essa idéia do Freud e adaptou. Mas não sacou que "inconsciente" fala justamente desse lugar-outro que já é disperso ao sujeito em si mesmo. O inconsciente não seria nem de si e nem dos outros. Ele seria "Outro". Ou dá pra fazer roteiro dos sonhos? É como coloca o Lacan em sua ironia sagaz: é o pássaro que constrói o vôo no seu sonho e não o contrário...

Quanto ao que colocas no final, penso que há uma distância bem profunda entre "co-participante" e "espelho".. O que acha?

Abraços

Dona Sra. Urtigão disse...

Quantp a Jung/Freud, sinto que Jung aperfeiçoou algumas das ideias de Freud, assim como muitas ainda são capengas e preconceituosas, conforme Freud o era e estão ai necessitando quem as reveja, corrija, aperfeiçoe. Pertencem a um contexto histórico e como muitos pensadores, superado este contexto devem ter suas ideias revistas.
Quanto a prevalencia do sonho e "realidade" não sinto essa hierarquização mas sim uma interdependencia, uma construção das duas realidades, o plano onírico e o racional construindo um ao outro.É importante salientar que eu não dou primazia à razão sobre outras esferas da consciência, mas considero tambem possibilidades as quais nossa mente vem fechando as portas a séculos.
E quanto ao final a minha proposta foi de oposição entre espelho e coparticipante .
E voltando a lacuna creio que aquele que o é, não é de fato um ser, nem humano, pois se É, não estaria com tantos espaços onde ser derramado qualquer coisa. Os que estão como lacuna, são arremedos, cópias falsificadas, intenções incompletas, embora sejam a maioria, parece.
Abraço.

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Com relação ao Jung, acho que a diferença principal dele para o Freud talvez seja justamente essa: ele parece que achava não possuir preconceitos...

Com relação ao Freud, acho que nada em termos de teoria é 'menos capenga' que a psicanálise na história moderna.. mas enfim, nessa vamos discordar...

Quanto ao 'É' da lacuna, volto ao Lacan: "Sou onde penso, penso onde não sou", ou seja, no inconsciente. O inconsciente é a lacuna. Se preenchi com uma cópia, deixou de ser lacuna, passou a ser texto. Mas o texto mesmo está na esfera da consciência. E é por isso que a poesia vai além: sua estrutura é lacunar, no sentido de que ignora o sentido..

Abraços

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