... a chuva não para. Talvez porque aqui, estas montanhas sejam a tal barreira que promove condensação do vapor de água vindo do mar, talvez porque sei lá que correntes, massas de ar isto ou aquilo ... ou porque aqui seja mesmo o "penico de São Pedro" como dizíamos quando éramos crianças. A questão é que os cães estão ficando irritados, eu estou ficando irritada. Os pássaros pouco aparecem, algum até caiu de alguma árvore, morto de tanta água ou do frio fora de época. Dentro de casa tudo mofa, o piso em madeira sobre alicerce sólido de pedras já apresenta umidades, sou obrigada a tirar do chão minhas almofadas e tapetes sob risco de perdê-los. Das paredes porejam gotículas, tanta água sobre elas, sem tempo para que sequem, umidade tamanha que não há possibilidades de evaporação. E começo a ficar triste tambem. Pensei em fugir, seguindo o mapa do tempo até encontrar um pouco de sol, mas não seria justo com tudo que deixaria aqui. Afinal, creio na alma das coisas, no sentimento daqueles objetos que me acompanham a tanto tempo. Torno-me prisioneira da umidade. Torno-me a-racional. Fantasio um apocalipse, sinto-me vivendo no fim dos tempos. Isto é o fim. Perder as esperanças, desistir de acreditar. O deus Sol foi suplantado pela força das águas, perdeu-se o equilibrio, ou nunca existiu, sempre estiveram em luta, cada qual querendo provar ser mais poderoso e mais indispensável e assim, desmedidamente ora queima-se a terra em secas abusivas, ora encharcam-na. Não são deuses, pois que injustos. Ou são, como todos os outros que surgiram com tantos nomes mas não conseguiram demonstrar à terra e seus filhos, a justiça. Por isso que, descrentes da justiça tornam-se maus os homens, à semelhança da imagem de seus deuses, e castigam tambem a Terra. Que, afinal, é quem nos concede a matéria de nossa existencia, trindade Luz, Água, Pó. Regidos pela vaidade e desequilíbrio.
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12 comentários:
Essa umidade, esse obnubilar, a chuva,o mofo, tudo isso às vezes sinto em mim. Sou daqueles que não conseguem fugir à própria sombra. Há os que podem. São poucos, mas há. Ou não têm sombra.
De qualquer forma, colega, o piso de madeira sobre as pedras, aqui dentro, vai aprendendo a resistir. Sobrevivo.
Sobreviveremos.
Abraços, daqui
Gaia chora as suas mágoas...
Aceita as romãs lá de casa?
feliz Dia de Reis, com Sol!
Cara amiga, vc não é mesmo poeta.
Se o fosse, estaria agora a tecer loas à chuva que batia na vidraça...
"Batem leve, levemente
Como quem chama por mim
Será chuva, será gente?
...."
É o início de um poema de João de Deus...
Experimente escrever um poema a toda essa humidade, transformando-a em aromas das nuvens que a beijam sem cessar... rsrs...
As melhoras para o seu tempo.
O meu, perto de ZERO ao início da manhã, ainda vai ficar mais frio...
Estou a pedir chuva para a temperatura subir... manda alguma para mim?
Beijo.
Por aqui está um solarão danado...
Achei engraçado que também creio "no sentimento daqueles objetos que me acompanham a tanto tempo". Nem precisam me acompanhar a tanto tempo, na verdade. Não trato mal. Fico com medo de magoá-los. =P
Mas que distração a minha, neste blog eu ainda não visitei, vejo o que estava perdendo. Beleza e um ótimo texto! Abraços
R.
Sobrevivemos a tanta coisa, que com certeza somos eternos.
abraço.
SãO
Agradecida pelas romãs e por tudo que sempre apresentas em teus blogs.
Nilson
Poeta eu teria seis semanas do gotejar constante em vidraças, telhados, a água que cai dos beirais sobre as calçadas, o gramado que virou lamaçal, fungos,fungos e fungos a inspirar-me. Quanta poesia em seis semanas de umidade, se poeta fosse. hshshs. Mas fiz algumas fotos interessantes de fungos, reflexos na água, cheias em pastos com o gado amolecendo o casco sem terra seca para pisar e lagos antes apraziveis a transbordarFotos interessantes, porem sem qualidade pois senão molharia a pobre da minha camera.
Abraços CALORosos
Andre,
Maceió, é ? Viu como em algum lugar se oculta a esperança? Hshshs
Tossan,
tambem, eu deveria simplificar, né, mas a minha natureza é assim.E agradecida por mostrar o sol em suas fotos. Não esquecerei que ele existe !
foi com essa chuva que noé , descobriu a terra prometida...
e claro com a sua arca , transformando a terra num novo mundo...
Mas o sol é duro, e as lágrimas já não caem do céu,inundam de tristeza e dor , o que deuses prometeram...
abraço do vale (com geadas)
Que bom estar no meio dessa natureza, apesar da humidade, desfrutar dos sons mais simples. Beijo
Olà Dona Sra.Urtigão!
Informo-te que te designei para um Prémio Dardos. Com este prémio simbólico “se reconhece o valor que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc.”
Parabéns!
Está tudo em: http://utopiecalabresi.blogspot.com/2009/01/utopie-calabresi-ha-ricevuto-il-premio.html
Um grande abraço da Itália!
Domenico Condito – “Utopie calabresi”
Certa vez postei uma reclamação sobre a chuva e frio na praia e recebi umas "broncas" de gente que fez os maiores elogios a ambos. Então, deve ter coisa boa como resultado desse mofo todo, e vejo que alguns comentários até já sugeriram uns.
Mas fico com vc. Por solidadriedade. Chuva, vai embora! Vem, sol. Só um pouquinho!!!
Duarte,
mas como não sou a escolhida para a arca, acabaria por perecer. Quanto ao novo mundo, parece-me que logo tornou-se igual ao antigo. E o sol, duro, poderia suavizar-se com alguma água, se ouvesse equilibrio...
Mikas
talvez eu me queixe sem razão, mas como inquieta que sou, tanta chuva me assusta. Até porque vem provocando desabamentos, mortes humanas, perdas materiais, em muitas cidades por aqui.
Rubinho,
eu mesma falei que não acreditava em tempo ruim. O tal cuspir para cima...Seis semanas...Mas hoje o sol surgiu um pouco. Não secou nem as poças d'agua, mas renova esperanças.
Amigo que emagreceu tanto que sumiu: como tenho tendências superprotetoras com todos aqueles a quem dedico afeto e aprendi a gostar de voce, fico preocupada, embora possa imaginar qualquer justificativa.
Abraços.
Domenico Condito
Sinto-me honrada com a sua indicação, mas não posso aceitar o Premio em questão, pois eu não conseguiria, entre tantos amigos e blogs que visito selecionar apenas alguns para cumprir a etapa de retransmitir o Premio Dardos, sem incorrer em injustiça.
Assim, pedindo desculpas, e afirmando que pretendo continuar a visitá-lo, deixo a disposição para outorga a outro, o premio em questão.
Agradecida.
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